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Acusações à Atea refletem o preconceito contra ateus

Críticas ocorrem em momento de
 avanço do conservadorismo religioso
A Atea (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos) foi atingida por uma enxurrada de críticas por causa de seus posts no Facebook envolvendo a tragédia da queda do avião que matou os jogadores do Chapecoense.

A associação foi acusada de ter sido insensível com as vítimas e suas famílias, principalmente em relação a uma sequência de duas fotos cuja mensagem é que Deus não deu ouvidos para as orações dos jogadores.

A mensagem poderia ter sido mais bem elaborada, o que a própria Atea acabou admitindo, mas daí concluir que a associação teve o propósito de ofender as famílias das vítimas é exagero.

Esse tipo de críticas se encaixa perfeitamente no estereótipo de crentes segundo os quais ateus são pessoas malévolas, perversas, beligerantes, pactuadas com o diabo. Ignorância pura.

A intenção dos posts da Atea foi criticar a ideia de que de que possa existir alguém, Deus, que tem o controle de tudo, da vida e da morte, e não a de ofender os parentes das vítimas.

Só não entendeu isso quem não quis, incluindo alguns ateus, que, sem se dar conta, endossaram um velho estereótipo do fanatismo religioso.

Nós, os ateus, somos pessoas como qualquer outra, com potencialidades e limites, com acertos e erros. A diferença é que não acreditamos em divindades. Só. E, no entanto, sofremos discriminações por isso.

Não somos bichos papões.

Como todo mundo, temos sentimentos, nos comove tragédia como a do Chapecoense, com a morte de jovens, promissores, no caso. Suponho que o pessoal da Atea não seja exceção.

Vistas de cima, as críticas à Atea ocorrem em um momento em que o país está se atolando em um conservadorismo religioso odiento, marcadamente neopentecostal, que quer impor seus dogmas à sociedade.

Trata-se de um momento grave, de atraso cultural, de comportamento e costumes e de ofensa à laicidade do Estado brasileiro.

Este é o contexto em que ocorreram as críticas à Atea. Quem não entendeu isso e fez coro contra a associação assumiu o discurso religioso que pretende ser dominante, e tem avançado muito.

É por isso que, nestes tempos, crítica à religião virou blasfêmia, embora, em uma sociedade democrática, tudo deve estar sob o crivo do questionamento, mesmo que isso seja feito com deboche, com humor e zomba (por que não?).

As pessoas merecem respeito, mas dogmas e crenças quase nem sempre.

O escritor Salman Rushdie disse que a religião não pode ser poupada da sátira porque se trata de um tema como qualquer outro em exposição na sociedade, como a política ou o esporte. Pelo menos para quem não acredita no sagrado.

Quem não crê no sagrado não se ajoelha diante de nada que vem da religião.

Rushdie  se referiu, em sentido amplo, à liberdade de expressão, um direito que no Brasil é constitucional e vale para todos, crentes e ateus.

A Atea emitiu uma nota pedindo desculpas por não ter conseguido passar a mensagem de que a “religião se aproveita de momentos de dor para impedir o pensamento racional”. E não é assim?

Quem discordar que apresente seus argumentos, mas sem reproduzir o clichê de que "ateu é, pela sua natureza, malvado".

A associação não precisava se explicar e muito menos pedir desculpas porque, como eu disse, só não entendeu os posts quem não quis. Quem convenientemente se fez de burro.

Envio de correção.

Grupo de discussão no WhatsApp.


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