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Cardeal afirma que o ateísmo não é perigoso, mas a indiferença sim


entrevista a Frédéric Mounier, do jornal francês La Croix

“Queremos dizer à sociedade contemporânea que a fé e a teologia estão entre os grandes vetores de conhecimento e de cultura, que cada uma têm um estatuto e uma dignidade próprios. Esse diálogo deve ocorrer no mais alto nível, sem relegar os crentes em Deus ao paleolítico!” A opinião é do cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura do Vaticano. Para ele, o que preocupa a igreja não é mais o ateísmo, mas a indiferença religiosa sim, porque é perigosa. Ele concedeu a seguinte entrevista.

Por que é necessário para a Igreja dialogar com aqueles que não acreditam?

A Igreja não se vê mais como uma ilha separada do mundo. Ela está no mundo. O diálogo, portanto, é para ela uma questão de princípio. Porque, nas nossas sociedades orgulhosas por serem secularizadas, constata-se, porém, que surgem perguntas fundamentais. Testemunho disso é o interesse pelo sagrado, a New Age ou também pelo sobrenatural e pela magia... Para responder a essa urgência, os grandes modelos culturais e religiosos se apresentam com legitimidade.

Além disso, queremos dizer à sociedade contemporânea que a fé e a teologia estão entre os grandes vetores de conhecimento e de cultura, que cada uma têm um estatuto e uma dignidade próprios. Esse diálogo deve ocorrer no mais alto nível, sem relegar os crentes em Deus ao paleolítico! Por fim, somos conscientes do fato de que o grande desafio não é o ateísmo, mas sim a indiferença, que é muito mais perigosa. Certamente, existe o ateísmo irônico de Michel Onfray, mas a indiferença pode ser representada por esta piada: "Se Deus saísse hoje pelas ruas, iriam lhe pedir seus documentos!".

Mas o Átrio dos Gentios não é um lugar de evangelização?

Certamente não. Somos como Paulo diante do Areópago de Atenas. Dizemos aquilo que acreditamos diante daqueles que não acreditam e que nos escutam. Embora sejamos conscientes do fato de que todas as grandes propostas culturais e religiosas não são só informativas, mas também "performativas": abrem a uma ação. Basta ler Dostoiévski, Pascal, Dante, Nietzsche...

Concretamente, o que a Igreja quer dizer aos não crentes?

Retomaria a distinção proposta pelo teólogo protestante alemão Dietrich Bonhoeffer entre as "realidades penúltimas" e as "realidades últimas". O cristianismo, por natureza, é uma religião encarnada, cuja mensagem é fundamentada em uma realidade histórica. Por essa encarnação, ele pôde agir na sociedade, trate-se do diálogo com os políticos ou da ação pela justiça e a solidariedade. Mas nós não constituímos só uma ONG. O nosso dever é o de um discurso sobre as "realidades últimas". Com isso, não entendo só Deus, a Palavra, a transcendência, mas também – e este é o programa do Átrio dos Gentios – os grandes problemas existenciais: a vida, o amor, a morte...

Nesses planos, a Igreja afirmar ter a Verdade. Uma afirmação pouco aceitável nestes tempos marcados pela indiferença.

É um grande problema. Para os cristãos, de fato, a Verdade nos precede na pessoa de Cristo, enquanto, aos olhos da cultura contemporânea, cada um de nós a constrói. Dessa diferença derivam concepções diversas do bem e do mal, da liberdade, da justiça. Sabemos bem que, hoje, dado que toda verdade varia de acordo com o contexto, cada um pode elaborar sua própria verdade. No limite, uma ação criminosa pode se dizer conforme a uma verdade. Um autor pôde dizer: "A Verdade não vos libertará". Ao contrário, Robert Musil afirmava: "A verdade não é uma pedra preciosa que se leva no bolso, mas sim um mar em que se imerge para nadar". Nós pensamos que é urgente evocar a Verdade. Podemos nos contentar, talvez, com uma sociedade formada só por comportamentos individuais adaptados, na ausência de normas comuns reconhecidas? Para um cristão, a liberdade é orientada, ordenada a um objetivo, não só no sentido do laissez-faire contemporâneo, que se limite à liberdade do próximo.

Trata-se de unificar fé e razão?

De um lado, constamos um excesso de racionalismo, mas também vemos surgir manifestações de irracionalidade, de sentimentalismo. Nesse contexto, é preciso sempre retomar a necessária autonomia da fé e da razão. É preciso também lembrar que, sendo o homem uno, fé e razão dentro dele devem dialogar.

Sobre esses temas, já não está tudo definido?

Certamente, somos uma minoria. Mas a nossa visão pode ser considerada provocadora, como um pó de comichão ou uma pedra no sapato. Dado que a multidão vai em uma certa direção, nós talvez também devemos segui-la?

Até se constitui em uma contracultura?

De fato, o crente é sinal de contradição. A cultura contemporânea, moldada pela comunicação de massa, visa à homogeneização do pensamento. Qualquer pessoa que seja uma exceção é considerado extravagante. Cabe a nós, junto com outros, realizar um trabalho essencial e difícil: buscar o verdadeiro, o bem, reconhecer o falso, o mal...

Sobre essas bases, quais frutos são esperados desses encontros parisienses do Átrio dos Gentios?

Queremos jogar uma pedra no lago, estimular a reflexão e o diálogo, e depois observar aquilo que acontece. Durante a nossa primeira sessão, na universidade de Bolonha, ficamos surpresos. De cada quatro relatores que intervieram (um cientista, um jurista, um filósofo, um escritor), dois eram crentes em Deus, e dois, não. Participaram 2.000 pessoas, discutiram ouviram leituras de Nietzsche, Pascal, Santo Agostinho. Tudo no máximo silêncio, com grande respeito recíproco e uma atenção elevada. Depois deParis, iremos para Estocolmo, sob a égide do luteranismo de Estado. Depois a Tiranae a Praga, importantes centros do ateísmo de Estado.

Com tradução de Moisés Sbardelotto para o IHU Online.

Igreja Católica de Portugal defende diálogo com ateus e agnósticos.
março de 2001

Ateísmo.

Comentários

Anônimo disse…
ninguem posta aki né? talves seja pq nao conseguem encarar o fato de que vcs, ateus tão "descriminados", pobrezinho deles... estao mais para viloes do que herois hoje em dia. "todo religioso é ignorante", é o q voces dizem. eu escuto e leio sobre ateismo todo dia, e ainda si acredito em deus. nao pq alguem me influencia, mas pq é a minha verdade. eu sei que existe o bom ateu e o mau religioso, mas, aos poucos, vcs vao perceber que todos os valores vao mudar, principalmente depois da dominaçao illuminati(já q eles são ateus legítimos, e acham que religiao é perda de tempo).eu nao vim dizer que vcs vão para o inferno, ou vao sofre ou algo parecido. só nao gosto de certos ateus que ficam falando sobre ciencia, e como tudo pode ser explicado por cientistas. cientistas geralmente tem a razao, qundo falam sobre saude, historia, etc. mnas existem cientistas que passam A VIDA a tentar procurar meios de convençer os religiosos a descreditar em Deus e seguirem uma vida ateista. isso é ridiculo.
Acredito que ainda vao vir pessoas me criticando.
eu sou cristao e sei que nesse mundo o ateismo esta crescendo mais que qualquer religiao. isso pouco me importa.
eu ja li de tudo nesse site, e adimito que a maioria dos ateus sao bem educados, mesmo existindo o haters.
e lembrem-se: dizer que todo religioso é preconceituoso e que todos os ateus sofrem por ser "ateus", é o mesmo que dizer que todo branco é racista e que todo negro sofre discriminaçao. ou seja, hipocrisia.
Anônimo disse…
Para muita gente eu sou um ateu. Entretanto não me declaro ateu. Não sou ateu. Nem crente nem cético nem ao deus dará. Mas digo que sou um homem espiritualizado e muito crítico. Por isso já me simpatizei muito com o lado ateísta em diversas discussões. Mas esse ateísmo militante de adolescente revoltado que tá aí fervilhando é uma nova religião. E ideologia política. O que repudio. O ateísmo militante que é essencialmente ocidental, não sei se percebem, mas está ajudando a minar as bases da cultura ocidental, e querem aniquilar com o cristianismo. Hoje em dia eu não sou um anti-cristão, mas também sei de mim que nunca serei um cristão. Não foram só os gregos que deram as bases para termos essa cultura e sociedade singular que é a nossa. Foi o cristianismo e a igreja católica que deram mais bases e deram a força para o desenvolvimento de uma alta cultura. É preciso reconhecer que foi uma força base para o desenvolvimento da filosofia, ciencias, arte e direito. E estruturação moral e ética para a reflexão do bem estar do próximo, sem distinção de classes ou genero. Coisa que não havia nas sociedades antigas. A idéia e o discuro de que a igreja é inimiga da razão, ética e desenvolvimento cientifico é um mito(e até farsa) histórico que está sendo desmantelado por novas pesquisas etc. Nenhuma sociedade vive e viverá sem o componente que se pode chamar de místico, por que a ciencia só é um ponto de vista e não pode explicar tudo. Muito menos dizer quem somos pra nossa própria consciencia e trazer paz de espírito.Isso é uma utopia. Onde quero chegar é que, em termos práticos, temos duas escolhas: ou nos aliamos aos nossos irmãos(porque somos frutos da mesma cultura) cristãos e reconhecemos seu valor - e porque, cá venhamos, o cristianismo já é um velho conhecido nosso e não é o fim do mundo, e com ele já sabemos lidar - ou damos boas vindas ao Islã. Olha só que maravilha. E com o Islã não existe discussão de ateísmo, Capelas Sistinas, Michelangelo, direitos humanos, feminismo, razão, lógica, artes etc. O Islã vem dominando e passando por cima de tudo que vê pela frente, se aproveitando que seu principal inimigo(sociedade ocidental) anda desorientado e enfraquecido internamente. Vê-se a situação que vem acontecendo na Europa. Hahaha, que ironia do destino, nunca pensei que viria a defender o cristianismo e sua cultura.
Anônimo disse…
Crente enrustido. Que feio.

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