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Grã-Bretanha perdeu a fé, incentivou o pensamento crítico e a sociedade melhorou

O sistema educacional valoriza a razão e o pensamento crítico. Aceitar algo “só porque sim” é coisa de um passado manietado por dogmas religiosos


James Williams
professor de Educação Científica, Escola de Educação e Serviço Social de Sussex, Universidade de Sussex, Reino Unido

The Conversation
plataforma de informação produzida por acadêmicos e jornalistas

O povo da Grã-Bretanha perdeu a fé. Uma nova pesquisa da British Social Attitudes Survey revela que 71% dos jovens não são religiosos. 

No geral, 53% da população da Inglaterra e do País de Gales não é religiosa. É a primeira vez que seguir uma religião é uma posição minoritária. Apenas 18% das pessoas praticam ativamente.

Então, por que isso está acontecendo? Os jovens são apenas irresponsáveis, desinteressados, ou a sociedade, de alguma forma, “falhou” em convencê-los de que a religião deveria fazer parte de suas vidas? 

Afinal, cerca de 20% das escolas britânicas são “escolas religiosas”. Certamente, uma escola religiosa, escolhida pelos pais, deveria formar jovens religiosos?

Mas talvez não. É bem possível que o nosso sistema educacional em constante aperfeiçoamento esteja afetando os sistemas de crenças vigentes nessas escolas.


Com melhor
educação, o
ensino do
pensamento
crítico e
melhorias no
conhecimento e
na compreensão
científica geral,
o sistema de fé
sob o qual as
religiões operam não
está conseguindo
convencer os
jovens a adotar

suas crenças

Um dos cientistas mais famosos a ter “perdido a fé” foi Charles Darwin, que se afastou da religião à medida que sua compreensão da ciência e do mundo aumentava. 

Muitos acreditam que sua perda de fé ocorreu após a morte de sua querida filha Annie, de dez anos, por tuberculose, em 1851. Foi certamente um golpe duro, mas evidências dos escritos de Darwin revelam um afastamento mais complexo (e anterior) do cristianismo.

Quando jovem, Darwin era religioso (embora, segundo ele, nunca tenha sido devoto). Como estudante de teologia em Cambridge, após abandonar o curso de medicina em Edimburgo, confessou não conseguir “sem hesitação” confirmar sua crença em Deus. 

Sua descoberta da teoria da evolução não contribuiu muito para sua perda de fé — mas o estudo das diversas pessoas que conheceu em suas viagens, sim.

Por que, ele se perguntava, se há apenas um Deus, tantos são adorados? Isso, somado à compreensão de que o Antigo Testamento, longe de ser factual, era obviamente metafórico ou alegórico, fez com que, com o tempo, ele se tornasse menos religioso. Uma coisa que ele nunca perdeu, no entanto, foi a crença em uma “causa primeira” para o início de tudo.
O atual sistema educacional britânico valoriza o pensamento crítico. Aceitar algo “só porque sim” não é suficiente. As crianças são ensinadas a questionar as coisas. Elas são incentivadas a se envolver na resolução de problemas, usando a lógica e o pensamento lógico para tomar decisões.

O problema da religião é que ela pode ser muito ilógica. Veja, por exemplo, a ideia de uma cobra falante, ou de pessoas se transformando em sal, ou de um homem de 600 anos construindo um barco para abrigar todas as espécies de animais. Foi isso que Darwin percebeu — tais histórias eram apenas histórias. Não eram fatos, não eram verdades.

A Igreja hoje alegaria, com razão, que não ensina tais coisas como fatos, mas como contos míticos concebidos para fornecer orientação moral. 

Se examinarmos a Bíblia mais de perto, contudo, encontraremos parte de sua “moralidade” questionável. Mesmo cristãos devotos não tolerariam o apedrejamento de um adúltero, mas essa era uma postura bíblica. A relevância também vem à mente. 

Se a Bíblia não fornece um relato factual de muita coisa e promove coisas moralmente questionáveis, como ela pode ser relevante hoje?

Como agnóstico e pesquisador do criacionismo, encontro muitos cristãos ultraevangélicos que acreditam na Bíblia do início ao fim, incluindo a cobra falante e a história de Noé.

Essas pessoas demonstram, in extremis, que a crença e a fé podem ser irracionais e sem evidências — que essas são suas principais características. Na vida, na sociedade moderna e na educação, somos agora muito mais dependentes de evidências.

Perdendo sua religião

Esta é uma maneira racional de pensar e uma posição racional a ser tomada. Isso também significa que, quando surgem novas evidências que contradizem o que pensávamos saber, podemos mudar de ideia. Com fé e crença, o processo de mudar de posição é muito mais difícil — é desconfortável e mina a base fundamental da fé.

Então, o que as comunidades religiosas devem fazer em relação às suas congregações em declínio? É claro que nascer em uma família religiosa ou frequentar uma escola religiosa não necessariamente aumenta a adesão à religião.

Uma resposta pode ser impedir que crianças sejam rotuladas com uma fé ao nascer, conforme a religião de seus pais. E nas escolas (que, na minha opinião, deveriam ser seculares), ensine todas as crianças sobre as diversas religiões, mas não as ensine a fazer parte de uma religião.

Aderir a uma religião deve ser uma escolha positiva e informada por parte do indivíduo. Talvez a entrada em qualquer religião deva ser restrita a uma idade em que os jovens possam refletir sobre as consequências de sua decisão, talvez aos 16 ou 18 anos.

As diversas religiões devem se concentrar mais em seu papel na comunidade, em vez de se tornarem uma organização que exige obediência cega a um ser sobrenatural. Devem promover a comunidade acima da fé e reconhecer abertamente que nenhuma religião tem controle total sobre como viver uma vida boa, moral e ética.

Se eles afirmam que essa já é a mensagem deles, então ela não está sendo ouvida. A religião tem muito trabalho a fazer se quiser sobreviver.

Comentários

CBTF disse…
Que vontade de morar lá, aqui era o único ateu da turma.

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