Durante décadas, o ateísmo viveu à margem. Falava em notas de rodapé, sussurrava em cafés ou vivia silenciosamente nas mentes de cientistas e céticos. Então veio o 11 de Setembro. Com ele, surgiu uma onda de ateísmo sem remorso que não se contentava em ficar em silêncio. Esse foi o nascimento do Novo Ateísmo.
Freethinkers International
plataforma de fatos e ideias sobre o livre pensamento
O Novo Ateísmo não se tratava somente de descrença em Deus. Tratava-se também de confrontação. Sua mensagem era clara: a religião não apenas engana, mas também causa danos. Ela atrasa a ciência, incita a violência e manipula o público.
Jan Bryxí
jornalista e escritor Freethinkers International
plataforma de fatos e ideias sobre o livre pensamento
O ateísmo tornou-se uma força cultural, liderado por quatro intelectuais de grande visibilidade: Richard Dawkins, Sam Harris, Christopher Hitchens e Daniel Dennett.
Mas por trás de sua lógica e estilo, havia um velho problema: o clientelismo. Esses pensadores não eram outsiders radicais. Eles ascenderam por meio de universidades de elite, redes editoriais de elite, plataformas de mídia de elite.
Os Quatro Cavaleiros, como eram conhecidos, escreviam best-sellers e participavam de debates lotados. Rejeitavam a tolerância religiosa e criticavam a fé como fraude intelectual. Dawkins chamava a crença em Deus de ilusão. Harris a associava ao terror. Hitchens descrevia a religião como veneno. Dennett a analisava como um complexo de meme. O tom deles não era diplomático. Era cirúrgico.
Mas por trás de sua lógica e estilo, havia um velho problema: o clientelismo. Esses pensadores não eram outsiders radicais. Eles ascenderam por meio de universidades de elite, redes editoriais de elite, plataformas de mídia de elite.
Diziam a verdade ao poder — mas também eram protegidos por ele. Suas críticas nunca tocaram o sistema financeiro, a academia de elite ou o estado profundo. Eles questionavam deuses, mas nunca doadores.
Essa hipocrisia manchou o movimento. Eles alegavam desafiar a autoridade, mas viviam em seu favor.
Essa hipocrisia manchou o movimento. Eles alegavam desafiar a autoridade, mas viviam em seu favor.
mostra que os
não-religiosos
(que incluem
ateus e
agnósticos)
tendem a uma
estabilização
até 2100
Religião na praça pública
Apesar da crescente população secular, o Ocidente ainda financia a religião por meios indiretos. Escolas religiosas funcionam com dinheiro público. Igrejas possuem terras, mas não pagam impostos. Políticos citam Deus abertamente nas leis. Mesmo em democracias liberais, a superstição mantém poder institucional.
O Novo Ateísmo forçou um debate público sobre essas contradições. Exigiu que a crença religiosa fosse tratada como qualquer outra afirmação — não como sagrada, mas como testável, discutível e opcional.
Apesar da crescente população secular, o Ocidente ainda financia a religião por meios indiretos. Escolas religiosas funcionam com dinheiro público. Igrejas possuem terras, mas não pagam impostos. Políticos citam Deus abertamente nas leis. Mesmo em democracias liberais, a superstição mantém poder institucional.
O Novo Ateísmo forçou um debate público sobre essas contradições. Exigiu que a crença religiosa fosse tratada como qualquer outra afirmação — não como sagrada, mas como testável, discutível e opcional.
O movimento lançou as bases para iniciativas como a Freethinkers International, incluindo membros (eu entre eles), que agora pressionam por políticas mais ousadas: a nacionalização de instituições religiosas, a proibição de escolas religiosas com financiamento público e a criação de uma agência global única para promover o racionalismo e o ateísmo.
Os Estados devem parar de financiar o pensamento mágico. Uma instituição unificada deve substituir os domínios religiosos dispersos e protegidos. As escolas religiosas, em especial, são vistas como as mais perigosas: doutrinam antes que a mente esteja totalmente formada. Na era científica, isso não é mais aceitável.
Os Estados devem parar de financiar o pensamento mágico. Uma instituição unificada deve substituir os domínios religiosos dispersos e protegidos. As escolas religiosas, em especial, são vistas como as mais perigosas: doutrinam antes que a mente esteja totalmente formada. Na era científica, isso não é mais aceitável.
O século XXI pertence à religião
No entanto, o Novo Ateísmo não venceu. O século XXI não se tornou secular. Muito pelo contrário. A religião continua a dominar grande parte do mundo — política, econômica e culturalmente.
O islamismo expandiu-se tanto em formas radicais quanto moderadas. O cristianismo ressurgiu na África e na América Latina. O nacionalismo hindu na Índia, o renascimento ortodoxo na Rússia, o poder evangélico nos EUA — tudo isso prova que a identidade religiosa não desapareceu. Ela foi transformada em arma.
As pessoas não estão abandonando a crença. Elas estão se apegando a ela. No caos, buscam significado. No medo, recorrem à tribo. A religião oferece ambos.
O Novo Ateísmo nunca criou uma contraidentidade forte o suficiente para substituí-lo.
No entanto, o Novo Ateísmo não venceu. O século XXI não se tornou secular. Muito pelo contrário. A religião continua a dominar grande parte do mundo — política, econômica e culturalmente.
O islamismo expandiu-se tanto em formas radicais quanto moderadas. O cristianismo ressurgiu na África e na América Latina. O nacionalismo hindu na Índia, o renascimento ortodoxo na Rússia, o poder evangélico nos EUA — tudo isso prova que a identidade religiosa não desapareceu. Ela foi transformada em arma.
As pessoas não estão abandonando a crença. Elas estão se apegando a ela. No caos, buscam significado. No medo, recorrem à tribo. A religião oferece ambos.
O Novo Ateísmo nunca criou uma contraidentidade forte o suficiente para substituí-lo.
O legado e seus limites
O Novo Ateísmo mudou o tom do discurso público. Tornou o ateísmo visível, tornou a religião discutível. Deu voz a milhões que antes se sentiam sozinhos. Nesse sentido, obteve sucesso.
Mas também não conseguiu evoluir. Tornou-se obcecado pelo Islã. E ignorou o poder econômico. Confundiu barulho com profundidade. Seus líderes promoveram a razão, mas raramente a análise sistêmica. E sua proximidade com as estruturas de elite os tornou vulneráveis à mesma hipocrisia que atacavam.
Hoje, seu legado sobrevive em formas mais brandas: humanismo secular, ateísmo espiritual e comunidades racionalistas. Mas o poder cultural que outrora teve está desaparecendo. As igrejas não estão diminuindo. As mesquitas estão crescendo. O mundo não se moveu em direção à razão. Ele retornou ao mito.
O Novo Ateísmo foi um choque necessário. Mas não concluiu o trabalho.
A próxima fase deve ir além — não só contra a crença, mas contra os sistemas que a protegem.
O Novo Ateísmo mudou o tom do discurso público. Tornou o ateísmo visível, tornou a religião discutível. Deu voz a milhões que antes se sentiam sozinhos. Nesse sentido, obteve sucesso.
Mas também não conseguiu evoluir. Tornou-se obcecado pelo Islã. E ignorou o poder econômico. Confundiu barulho com profundidade. Seus líderes promoveram a razão, mas raramente a análise sistêmica. E sua proximidade com as estruturas de elite os tornou vulneráveis à mesma hipocrisia que atacavam.
Hoje, seu legado sobrevive em formas mais brandas: humanismo secular, ateísmo espiritual e comunidades racionalistas. Mas o poder cultural que outrora teve está desaparecendo. As igrejas não estão diminuindo. As mesquitas estão crescendo. O mundo não se moveu em direção à razão. Ele retornou ao mito.
O Novo Ateísmo foi um choque necessário. Mas não concluiu o trabalho.
A próxima fase deve ir além — não só contra a crença, mas contra os sistemas que a protegem.
> Esse texto foi publicado originalmente com o título Impact of New Atheism.
Comentários
Eu achava que esse nome era apenas mais um rótulo estúpido criado pela imprensa. No caso, para nomear o ateísmo corajoso o suficiente para devolver cada bofetada recebida dos crentelhos com outra bofetada.
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