Pular para o conteúdo principal

Católicos de igreja suíça se confessam com Jesus IA. Ele pode perdoar?

Os católicos são aconselhadores a não revelar informação pessoal para que ela não se espalhe na internet


Joanne M. Pirce 
professora emérita de estudos religiosos, College of the Holy Cross, Estados Unidos

The Conversationl
plataforma de informação produzida por acadêmicos e jornalistas

Uma igreja católica suíça instalou um Jesus IA em um confessionário para interagir com os visitantes. A instalação foi um projeto de dois meses em religião, tecnologia e arte intitulado “Deus in Machina”, criado na Universidade de Lucerna.

O título latino significa literalmente “deus da máquina”; refere-se a um recurso de enredo usado em peças gregas e romanas, introduzindo um deus para resolver um problema ou conflito impossível enfrentado pelos personagens.


Este holograma de Jesus
em uma tela foi animado
por um programa de
inteligência artificial.
A programação da IA
​​incluía textos teológicos,
e os visitantes eram
convidados a fazer
perguntas à IA Jesus,
visualizadas em um
monitor atrás de uma
tela de treliça

Os usuários eram aconselhados a não revelar nenhuma informação pessoal e confirmar saberem que estavam interagindo com o avatar por sua conta e risco.

Algumas manchetes afirmavam que o AI Jesus estava realmente envolvido no ato ritual de ouvir as confissões das pessoas sobre seus pecados, mas esse não era o caso. 

No entanto, embora o AI Jesus não estivesse realmente ouvindo confissões, como especialista na história da adoração cristã, fiquei perturbado pelo ato de colocar o projeto de IA em um confessionário real que os paroquianos normalmente usariam.

Um confessionário é uma cabine onde padres católicos ouvem confissões de pecados dos paroquianos e lhes concedem absolvição, perdão, em nome de Deus. Confissão e arrependimento sempre acontecem na comunidade humana que é a igreja. Crentes confessam seus pecados a padres ou bispos.

História antiga

As escrituras do Novo Testamento enfatizam claramente um contexto humano e comunitário para admitir e arrepender-se dos pecados.

No Evangelho de João, por exemplo, Jesus fala aos seus apóstolos, dizendo: “Aqueles cujos pecados perdoardes, eles serão perdoados, e aqueles cujos pecados reterdes, eles serão retidos”. E na epístola de Tiago, os cristãos são instados a confessar seus pecados uns aos outros.

As igrejas nos primeiros séculos encorajavam a confissão pública de pecados mais sérios, como fornicação ou idolatria. Os líderes da igreja, chamados bispos, absolviam os pecadores e os recebiam de volta à comunidade.

Do terceiro século em diante, o processo de perdão de pecados tornou-se mais ritualizado. A maioria das confissões de pecados permaneceu privada — uma a uma com um padre ou bispo. Os pecadores expressariam sua tristeza fazendo penitência individualmente por meio de oração e jejum.

Entretanto, alguns cristãos culpados de certos delitos graves, como assassinato, idolatria, apostasia ou má conduta sexual, seriam tratados de forma muito diferente.

Esses pecadores fariam penitência pública como um grupo. Alguns eram obrigados a ficar de pé nos degraus da igreja e pedir orações. Outros podiam ser admitidos para adoração, mas eram obrigados a ficar de pé nos fundos ou ser dispensados ​​antes que as escrituras fossem lidas. 

Esperava-se que os penitentes jejuassem e orassem, às vezes por anos, antes de serem ritualmente reconciliados com a comunidade da igreja pelo bispo.

Desenvolvimentos medievais

Durante os primeiros séculos da Idade Média, a penitência pública caiu em desuso, e a ênfase foi cada vez mais colocada na confissão verbal de pecados a um padre individual. Após completar privadamente as orações penitenciais ou atos designados pelo confessor, o penitente retornaria para a absolvição.

O conceito de Purgatório também se tornou uma parte disseminada da espiritualidade cristã ocidental. Era entendido como um estágio da vida após a morte onde as almas de quem morreu antes da confissão com pecados menores, ou não completaram a penitência, seriam purificadas pelo sofrimento espiritual antes de serem admitidas no céu.

Amigos vivos ou familiares do falecido eram encorajados a oferecer orações e realizar atos penitenciais privados, como dar esmolas — presentes em dinheiro ou roupas — aos pobres, para reduzir o tempo que essas almas teriam que passar nesse estado provisório.

Outros desenvolvimentos ocorreram no final da Idade Média. Com base no trabalho do teólogo Peter Lombard, a penitência foi declarada um sacramento, um dos principais ritos da Igreja Católica. 

Em 1215, um novo documento da igreja determinou que todo católico se confessasse e recebesse a Sagrada Comunhão pelo menos uma vez por ano.

Os padres que revelassem a identidade de qualquer penitente enfrentavam penalidades severas. Guias para padres, geralmente chamados de Handbooks for Confessors , listavam vários tipos de pecados e sugeriam penitências apropriadas para cada um.

Os primeiros confessionários

Até o século XVI, aqueles que desejavam confessar seus pecados tinham que marcar locais de encontro com o clero, às vezes na igreja local quando ela estava vazia.

Mas o Concílio Católico de Trento mudou isso. A 14ª sessão em 1551 abordou a penitência e a confissão, enfatizando a importância da confissão privada a padres ordenados a perdoar em nome de Cristo.

Logo depois, Charles Borromeo, o cardeal arcebispo de Milão, instalou os primeiros confessionários ao longo das paredes de sua catedral. Essas cabines foram projetadas com uma barreira física entre o padre e o penitente para preservar o anonimato e evitar outros abusos, como conduta sexual inapropriada.

Confessionários semelhantes apareceram em igrejas católicas ao longo dos séculos seguintes: o  elemento principal era uma tela ou véu entre o padre confessor e o leigo, ajoelhado ao seu lado. Mais tarde, cortinas ou portas foram adicionadas para aumentar a privacidade e garantir a confidencialidade.

Ritos de penitência na contemporaneidade

Em 1962, o Papa João XXIII abriu o Concílio Vaticano II. Seu primeiro documento, emitido em dezembro de 1963, estabeleceu novas normas para promover e reformar a liturgia católica.

Desde 1975, os católicos têm três formas do rito de penitência ereconciliação.. A primeira forma estrutura a confissão privada, enquanto a segunda e a terceira formas se aplicam a grupos de pessoas em ritos litúrgicos especiais. 

A segunda forma, frequentemente usada em momentos definidos durante o ano, oferece aos participantes a oportunidade de ir à confissão privadamente com um dos muitos padres presentes.

A terceira forma pode ser usada em circunstâncias especiais, quando a morte ameaça sem tempo para confissão individual, como um desastre natural ou pandemia. Os reunidos recebem absolvição geral, e os sobreviventes confessam privadamente depois.

Além disso, essas reformas levaram ao desenvolvimento de um segundo local para confissão: em vez de ficarem restritos ao confessionário, os católicos agora tinham a opção de confessar seus pecados cara a cara com o padre.

Para facilitar isso, algumas comunidades católicas adicionaram uma sala de reconciliação às suas igrejas. Ao entrar na sala, o penitente podia escolher o anonimato usando o ajoelhador em frente a uma tela tradicional ou andar ao redor da tela até uma cadeira colocada de frente para o padre.

Nas décadas seguintes, a experiência católica de penitência mudou. Os católicos iam à confissão com menos frequência ou pararam completamente. Muitos confessionários permaneceram vazios ou foram usados ​​para armazenamento. 

Muitas paróquias começaram a agendar confissões somente com hora marcada. Alguns padres podem insistir na confissão presencial, e alguns penitentes podem preferir apenas a forma anônima. A forma anônima tem prioridade, já que a confidencialidade do sacramento deve ser mantida.

Em 2002, o Papa João Paulo II abordou alguns desses problemas, insistindo que as paróquias fizessem todos os esforços para programar horários definidos para confissões. 

O próprio Papa Francisco se preocupou em reviver o sacramento da penitência. De fato, ele demonstrou sua importância ao se apresentar para confissão, cara a cara, em um confessionário na Basílica de São Pedro.

Talvez, no futuro, um programa como o AI Jesus possa oferecer aos católicos e questionadores interessados ​​de outras religiões informações, conselhos, referências e aconselhamento espiritual limitado 24 horas por dia. Mas, da perspectiva católica, uma IA, sem experiência de ter um corpo humano, emoções e esperança de transcendência, não pode absolver autenticamente os pecados humanos.

Comentários

CBTF disse…
O problema é fazerem isso no Brasil, vai ter muita gente humilde achando que está falando com o próprio Cristo.

Post mais lidos nos últimos 7 dias

Vicente e Soraya falam do peso que é ter o nome Abdelmassih

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Limpem a boca para falar do Drauzio Varella, cristãos hipócritas!

Varella presta serviço que nenhum médico cristão quer fazer LUÍS CARLOS BALREIRA / opinião Eu meto o pau na Rede Globo desde o começo da década de 1990, quando tinha uma página dominical inteira no "Diário do Amazonas", em Manaus/AM. Sempre me declarei radicalmente a favor da pena de morte para estupradores, assassinos, pedófilos, etc. A maioria dos formadores de opinião covardes da grande mídia não toca na pena de morte, não discutem, nada. Os entrevistados de Sikera Júnior e Augusto Nunes, o povo cristão da rua, também não perdoam o transexual que Drauzio, um ateu, abraçou . Então que tipo de país de maioria cristã, tão propalada por Bolsonaro, é este. Bolsonaro é paradoxal porque fala que Jesus perdoa qualquer crime, base haver arrependimento Drauzio Varella é um médico e é ateu e parece ser muito mais cristão do que aqueles dois hipócritas.  Drauzio passou a vida toda cuidando de monstros. Eu jamais faria isso, porque sou ateu e a favor da pena de mor...

Feliciano manda prender rapaz que o chamou de racista

Marcelo Pereira  foi colocado para fora pela polícia legislativa Na sessão de hoje da Comissão de Direitos Humanos e Minoria, o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP), na foto, mandou a polícia legislativa prender um manifestante por tê-lo chamado de racista sob a alegação de ter havido calúnia. Feliciano apontou o dedo para um rapaz: “Aquele senhor de barba, chama a segurança. Ele me chamou de racista. Racismo é crime. Ele vai sair preso daqui”. Marcelo Régis Pereira, o manifestante, protestou: “Isso [a detenção] é porque sou negro. Eu sou negro”. Depois que Pereira foi retirado da sala, Feliciano disse aos manifestantes: “Podem espernear, fui eleito com o voto do povo”. O deputado não conseguiu dar prosseguimento à sessão por causa dos apitos e das palavras de ordem cos manifestantes, como “Não, não me representa, não”; “Não respeita negros, não respeita homossexuais, não respeita mulheres, não vou te respeitar não”. Jovens evangélicos manifestaram apoio ao ...

Deputado gay é ameaçado de morte no Twitter por supostos evangélicos

Resposta do deputado Jean Wyllys O militante gay e deputado Jean Wyllys (PSOL) recebeu hoje (18) pelo Twitter três ameaças de morte de supostos evangélicos. Diz uma delas: "É por ofender a bondade de Deus que você deve morrer". Outra: "Cuidado ao sair de casa, você pode não voltar". A terceira: “"A morte chega, você não tarda por esperar".  O deputado acredita que as ameaças tenham partido de fanáticos religiosos. “Esses religiosos homofóbicos, fundamentalistas, racistas e enganadores de pobres pensam que me assustam com ameaças de morte!”, escreveu ele no Twitter. Wyllys responsabilizou os pastores por essas “pessoas doentes” porque “eles as conduzem demonizando minorias”. Informou que vai acionar as autoridades para que os autores da ameaça seja penalizados. Escreveu: "Vou recorrer à Justiça toda vez que alguém disseminar o ódio racista, misógino e homofóbico no Twitter, mesmo que seja em nome de seu deus". Defensor da união civi...

Prefeito de São Paulo veta a lei que criou o Dia do Orgulho Heterossexual

Kassab inicialmente disse que lei não era homofóbica

Promotor nega ter se apaixonado por Suzane, mas foi suspenso

Gonçalves, hoje com 45 anos, e Suzane quando foi presa, 23 No dia 15 de janeiro de 2007, o promotor Eliseu José Berardo Gonçalves (foto), 45, em seu gabinete no Ministério Público em Ribeirão Preto e ao som de músicas românticas de João Gilberto, disse a Suzane Louise Freifrau von Richthofen (foto), 27, estar apaixonado por ela. Essa é a versão dela. Condenada a 38 anos de prisão pela morte de seus pais em outubro de 2002, a moça foi levada até lá para relatar supostas ameaças de detentas do presídio da cidade. Depois daquele encontro com o promotor, ela contou para uma juíza ter sido cortejadar.  Gonçalves, que é casado, negou com veemência: “Não me apaixonei por ela”. Aparentemente, Gonçalves não conseguiu convencer sequer o Ministério Público, porque foi suspenso 22 dias de suas atividades por “conduta inadequada” e por também por ter dispensado uma testemunha importante em outro caso. Ele não receberá o salário correspondente a esse período. O Fantástico de ontem apre...

Pastor da Frente Parlamentar quer ser presidente do Brasil

Feliciano sabe das 'estratégias do diabo' contra um presidente cristão O pastor Marco Feliciano (foto), 41, do Ministério Tempo de Avivamento, disse sonhar com um Brasil que tenha um presidente da República que abra o programa “Voz do Brasil” dizendo: “Eu cumprimento o povo brasileiro com a paz do Senhor”.  Esse presidente seria ele próprio, conforme desejo que revelou no começo deste ano. Feliciano também é deputado federal pelo PSC-SP e destacado membro da Frente Parlamentar Evangélica. Neste final de semana, após um encontro com José Serra (PSDB), candidato a prefeito de São Paulo, Feliciano falou durante um culto sobre “as estratégias do diabo” para dificultar o governo de um "presidente cristão":  "A militância dos gays, a militância do povo que luta pelo aborto, a militância dos que querem descriminalizar as drogas". Como parlamentar, Feliciano se comporta como se o Brasil fosse um imenso templo evangélico. Ele é autor, entre outros, do p...

Físico afirma que cientistas só podem pensar na existência de Deus como hipótese

Orkut tem viciados em profiles de gente morta

Uma das comunidades do Orkut que mais desperta interesse é a PGM ( Profile de Gente Morta). Neste momento em que escrevo, ela está com mais de 49 mil participantes e uma infinidade de tópicos. Cada tópico contém o endereço do profile (perfil) no Orkut de uma pessoa morta e, se possível, o motivo da morte. Apesar do elevado número de participantes, os mais ativos não passam de uma centena, como, aliás, ocorre com a maior parte das grandes comunidades do Orkut. Há uma turma que abastece a PGM de informações a partir de notícias do jornal. E há quem registre na comunidade a morte de parentes, amigos e conhecidos. Exemplo de um tópico: "[de] Giovanna † Moisés † Assassinato Ano passado fizemos faculdade juntos, e hoje ao ler o jornal descubri (sic) que ele foi assassinado pois tentou reagir ao assalto na loja em que era gerente. Tinha 22 anos...” Seguem os endereços do profile do Moisés e da namorada dele. Quando o tópico não tem o motivo da morte, há sempre alguém que ...