Pular para o conteúdo principal

Bispo dos EUA pede desculpas à educadora LGBT demitida por escola católica

> JOSHUA J. McELWEE
National Catholic Report
Após oito anos atuando como diretora de educação religiosa em uma escola católica na Pensilvânia, EUA, Margie Winters foi demitida em 2015 devido ao seu casamento com uma mulher.

Sua história é semelhante à de vários outros educadores católicos nos Estados Unidos, demitidos porque seus relacionamentos violam os ensinamentos da Igreja contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Mas, no dia 4 de junho deste ano, Winters recebeu algo diferente: um pedido de desculpas clerical pela forma como foi tratada.

Como parte de uma discussão durante o encontro anual da College Theology Society, realizada de modo online, o bispo John Stowe, de Lexington, Kentucky, disse a Winters: “Você conta uma história que aconteceu com você e com tantos outros (...) de ser traída por uma instituição que você ama”.

“Como parte da hierarquia masculina, eu peço desculpas pela dor que isso causou a você”, disse ele.

Stowe, que se tornou um dos bispos dos Estados Unidos mais incisivos no apoio aos católicos LGBTQ, também disse que o seu próprio catolicismo “não pode ser reduzido a uma cláusula de moralidade”.

“Há uma hierarquia de verdades e de valores que constituem o cerne do catolicismo”, disse o bispo, que dirige sua diocese desde 2015. “As instituições católicas devem estar focadas no próprio Evangelho e na extensão do reino de Deus (...) de modo a levar as pessoas a uma relação mais profunda com o Deus Triúno.”

Winters foi demitida da Waldron Mercy Academy, em Merion, um subúrbio da Filadélfia, depois que alguns pais da escola reclamaram do seu relacionamento. Ela disse a Stowe e aos teólogos que participaram da discussão online que “ser demitida de uma comunidade que você ama e confia é devastador”.

“Eu quero que a Igreja saiba que eu vi e senti a sua escuridão”, disse Winters. “Meu coração está partido e continua sofrendo a ruptura da relação.”

Não se sabe exatamente quantos educadores católicos LGBTQ nos Estados Unidos foram demitidos por causa de seus relacionamentos, embora novos casos tenham surgido nos últimos anos. Duas escolas em Indiana chamaram a atenção nacional em 2019 depois que uma demitiu um educador em um casamento do mesmo sexo, e a outra se recusou a fazer o mesmo.

A escola que se recusou, a Brebeuf Jesuit Preparatory, apelou ao Vaticano, que impediu que o arcebispo de Indianápolis, Charles Thompson, rescindisse o status católico da escola enquanto analisa o caso.

Winters e Stowe falaram em uma das dezenas de sessões no encontro entre os dias 3 e 5 de junho, que reuniu teólogos de todo o país para discussões focadas no tema “O humano em um mundo desumanizante: reexaminando a antropologia teológica e suas implicações”.

Uma sessão anterior no dia 4 de junho se concentrou na discussão do livro “Consent: A Memoir of Unwanted Attention”, de Donna Freitas, de 2019, que detalhou a sua experiência de sofrer assédio e perseguição de um padre professor na Universidade Católica dos Estados Unidos nos anos 1990.

Freitas disse aos teólogos na sessão que as discussões sobre o abuso na Igreja muitas vezes se concentram apenas nos problemas do abusador e tratam as vítimas e sobreviventes como se fossem “personagens de um livro, congelados no tempo”.

“Eu quero que vocês me olhem no rosto e vejam a vítima que eu sou”, disse ela a seus colegas. “Meu abusador é o produto de um sistema, um sistema do qual vocês fazem parte e são um produto agora.”

Margie Winters:
vítima de homofobia
da igreja

Com tradução de Moisés Sbardelotto para IHU Online.

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Dias sofre ameaça de morte por pedir retirada de Deus do real

"Religião também é usada para violar os direitos humanos" O procurador Jefferson Aparecido Dias (foto), da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal em São Paulo, vem sofrendo ameaças de morte desde que deu entrada a uma ação na Justiça pedindo a retirada da expressão “Deus seja louvado” das cédulas real. “Eu estou sendo ameaçado por causa dessa ação, por cristãos”, disse em entrevista a Talita Zaparolli, do portal Terra. “Recebi alguns emails com ameaças, em nome de Deus.” O procurador tem se destacado como defensor da laicidade do Estado brasileiro. Em 2009 ele ajuizou uma ação pedindo a retirada de símbolos religiosos das repartições públicas federais. Dias, que é católico, recorreu à Bíblia para defender a laicidade prevista na Constituição. “Em nenhum momento Jesus deu a entender, para quem é cristão, que o dinheiro deveria trazer o nome dele ou o nome de Deus”, disse. “Acho que é uma inversão de valores.” Na entrevista, ele...

BC muda cédulas do real, mas mantém 'Deus seja Louvado'

Louvação fere o Estado laico determinado pela Constituição  O Banco Central alterou as cédulas de R$ 10 e R$ 20, “limpou” o visual e acrescentou elementos de segurança, mas manteve a expressão inconstitucional “Deus seja Louvado”.  As novas cédulas, que fazem parte da segunda família do real, começaram a entrar em circulação no dia 23. Desde 2011, o Ministério Público Federal em São Paulo está pedindo ao Banco Central a retirada da frase das cédulas, porque ela é inconstitucional. A laicidade determinada pela Constituição de 1988 impede que o Estado abone qualquer tipo de mensagem religiosa. No governo, quanto à responsabilidade pela manutenção da frase, há um empurra-empurra. O Banco Central afirma que a questão é da alçada do CMN (Conselho Monetário Nacional), e este, composto por um colegiado, não se manifesta. Em junho deste ano, o ministro Marco Aurélio, do STF (Supremo Tribunal Federal), disse que a referência a Deus no dinheiro é inconcebível em um Estado mode...

Malafaia desmente fim de acordo entre sua editora e Avon

com atualização em 22 de junho de 2012 Pastor diz que falsa notícia foi safadeza de gays Silas Malafaia (foto) desmentiu a informação divulgada pelo site "A Capa", do movimento gay, e reproduzida por este blog segundo a qual a Avon tirou do seu catálogo os livros da Editora Central Gospel. Para o pastor, trata-se de “mais uma mentira e safadeza de ativistas gays, o que é bem peculiar do caráter deles”. Na versão de "A Capa", no folheto “Moda e Casa” que a Avon divulgou no dia 13 de junho não tem nenhum livro da editora de Malafaia e que isso, segundo o site, é o desdobramento da campanha que ativistas gays moveram na internet contra a empresa de cosméticos. Malafaia informou que a Bíblia que consta no folheto é de sua editora e que é comum em algumas quinzenas a Avon não divulgar os livros da Central Gospel. A firmou que o acordo entre a editora e a Avon tem uma programação de distribuição de livros até o final do ano. O pastor criticou os sites...

Menina morta por jejum religioso deixou diário com relatos de maus-tratos

Adventistas vão intensificar divulgação do criacionismo

Consórcio vai investir em pesquisa na área criacionista A Igreja Adventista do Sétimo Dia anunciou o lançamento de um consórcio para intensificar a divulgação do criacionismo no Brasil e em outros países sul-americanos. Na quinta-feira (13), em Brasília, entidades como Sociedade Criacionista Brasileira, Núcleo de Estudos das Origens e Museu de Geociências das Faculdades Adventistas da Bahia assinaram um protocolo para dar mais destaque à pesquisa criacionista e às publicações sobre o tema. Os adventistas informaram que o consórcio vai produzir vídeos para adolescentes e jovens explicando a criação e como ocorreu o dilúvio e um plano piloto de capacitação de professores. O professor Edgard Luz, da Rede de Educação Adventistas para oitos países sul-americanos, disse que o lançamento do consórcio é um “passo muito importante”, porque “o criacionismo está ligado à primeira mensagem angélica da Bíblia”. Com informação do site da Igreja Adventista . Colégio adventista de ...

Arcebispo defende permanência de ‘Deus’ em notas do real

Dom Scherer diz que descrentes não deveriam se importar   Dom Odilo Scherer (foto), arcebispo metropolitano de São Paulo, criticou a ação que o MPF (Ministério Público Federal) enviou à Justiça Federal solicitando a determinação no sentido de que a expressão “Deus seja louvado” deixe de constar nas cédulas do real. Em nota, Scherer disse: "Questiono por que se deveria tirar a referência a Deus nas notas de real. Qual seria o problema se as notas continuassem com essa alusão a Deus?" Argumentou que, “para quem não crê em Deus, ter ou não ter essa referência não deveria fazer diferença. E, para quem crê em Deus, isso significa algo”. O promotor Jefferson Aparecido Dias, autor da ação, defendeu a supressão da expressão porque o Estado brasileiro é laico e, por isso, não pode ter envolvimento com nenhuma religião, mesmo as cristãs, que são professadas pela maioria da população. Scherer, em sua nota, não fez menção ao Estado laico, que está previsto na Constituição. E...

Fiéis apoiam líder da Igreja Vó Rosa suspeito abuso sexual e chamam denunciantes de 'canalhas'

Universidade de Lavras faz proselitismo religioso

Mensagem da universidade dá destaque à "crença no criador" Alguém da administração da Universidade Federal de Lavras (MG) resolveu manifestar seu desapreço pelo Estado laico, usando a instituição pública como plataforma de evangelização. É o que fica evidente na  mensagem de “Boas Festas” desejando “crença no senhor”, entre outras coisas, como “felicidade” e “amor”. A mensagem foi colocada em um banner na entrada da universidade e em seu site e perfil no Facebook. O proselitismo religioso se destaca na mensagem porque está em letras brancas, contrastando com os tons predominantes de verde.  Quem assina é a “Direção Executiva”, mas poderia ter sido uma denominação religiosa, que não faria nenhuma diferença. Entre os cursos ministrados pela universidade estão os de engenharia em diversas áreas do conhecimento, de ciência ambiental, agricultura e medicina veterinária. O reitor é José Roberto Soares Scolforo, doutor em engenharia florestal. Ele assumiu o cargo em ju...