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Nem os desvairos de Bolsonaro conseguem despertar o movimento ateísta

PAULO LOPES    Os desvairos do presidente Jair Bolsonaro são mais do que suficientes para reunir ateus, humanistas e livres-pensadores em defesa da vida, do Estado laico e da democracia.     

Mas onde estão essas pessoas? Seriam todos bolsonaristas? Não são, quero crer. Mas parte dos ateus já foi ou ainda é. 

O Datafolha informou em agosto de 2018 que, do total dos ateus, 26% deles manifestaram intenção de voto em Jair Bolsonro para presidente.

Na época, fiquei impressionado com tão elevado índice porque, afinal, Bolsonaro, com o slogan “Deus acima de todos”, nunca escondeu a intenção de detonar a laicidade do Estado brasileiro — e é o que ele tem feito.

O meu espanto se deveu também ao fato de os ateus no Brasil, como em outros países, serem pessoas com formação escolar acima da média da sociedade e com poder aquisitivo idem. São pessoas esclarecidas, em tese.

Não se pode dizer que a tal porcentagem de ateus não sabia que Bolsonaro é um escroto, um estúpido, defensor da tortura, machista e misógino.

Diante da Covid-19 amontoando corpos em hospitais, digo que Bolsonaro é um monstro.

Peço desculpas a Hannah Arendt por desprover alguém de humanidade, mas trata-se de minha revolta diante da falta de empatia de Bolsonaro com uma população que sofre com a morte de mãe, pai, filhos e amigos. O presidente zomba dos mortos e de seus familiares. É crueldade.

Volto aos ateus. Lembro que, na rede social, até militantes do ateísmo com certa representatividade declararam que ia votar no Bolsonaro para não ter de apoiar o candidato petista, Fernando Haddad. Mas é o voto em branco? O nulo?

O fato é que os ateus bolsonaristas agora se calaram e certamente estão arrependidos, se tiverem um mínimo de decência, como se supõe estar ocorrendo com outros eleitores. Autocrítica, ninguém faz, ao menos em público. Esse é um dos males do pensamento político brasileiro.

Jovens ateus brasileiros agitaram as redes sociais há uns cinco anos, ecoando pensadores como Richard Dawkins e Christopher Hitchens, que se tornaram militantes do ateísmo após a derrubada das Torres Gêmeas em nome de Alá.

Esses jovens ateus passaram a atacar firmemente religiões e líderes religiosos, como nunca houve na história recente do país. Em um país extremamente religioso, eles exerceram a liberdade de expressão de criticar os credos religiosos. Houve estranhamento de parte da sociedade. 

Mas o que parecia ser um movimento com potencial para adquirir consistência se mostrou ser uma bolha.

Ainda se pode ver na rede social resquícios dessa bolha: memes óbvios, retórica pobre e esforço para converter ao ateísmo quem já é ateu. Desperdício de energia. 

Ninguém pode querer converter alguém ao ateísmo porque não se trata de uma religião (no meu entendimento; o assunto é polêmico). 

O certo seria estimular os "crentes" a questionarem o uso de divindades na imposição de valores e comportamentos, além da coleta do dízimo de uma população pobre.

De qualquer forma, reagir ao bolsonarismo deveria ser um ato cívico de todos nós. E os ateus poderiam aproveitar a oportunidade para se atircularem. Até porque os ataques ao Estado laico vão continuar e eles tendem a ser cada vez mais devastador.




Comentários

Marco Antônio F disse…
As torres gêmeas não foram derrubadas por motivos religiosos. Mas a mídia capitalista e sionista quer que todos acreditem que foram derrubadas por questões religiosas. Renomados cientistas já provaram que não tem nada de religioso na queda das torres gêmeas.
Ariella disse…
Fontes?
Se teve prova por cientistas, tem que ter estudo comprovando. O que é afirmado sem provas pode ser desconsiderado sem provas.
Anônimo disse…
Parei até de acompanhar as notícias sobre o Bolsonaro, principalmente depois daquele vídeo que ele fez imitando um doente de Covid agonizando com falta de ar, enquanto dava risada, pra mim esse senhor é um psicopata, não me interessa o que tá acontecendo, não leio mais notícias dele pra não passar raiva, mas continuo ateu, só não acho que vale a pena ficar dialogando com malucos crentes.
Os toscos sempre vem com essa "não há questões religiosas"... Salvo excessões de questões de apego de ideologias políticas, como Socialismo, Ideal Estadosunidense etc, tudo tem religião envolvida.
O que se pode diser muitas vezes, é que OS LÍDERES podem nem crer, ou o comum de crer em OUTRA religião ou fé ("energias", ideal político etc) e utilizar o povo como massa de manobra no que é de longe o mais comum em manipular: RELIGIÃO, Deus e afins. Mas não só isso, a base vital é a "vida após a morte" para dar AQUELA força. Sem ela fica mais difícil.

"Mas o que eu ganharia em lutar tanto, continuar na pobreza e morrer?"
"Caro fiel de Deus, VOCÊ CUMPRINDO os ideais corretos, terá a vida ETERNA boa! O que são anos, mesmo muitos, de sofrimento aqui em comparação com a eternidade? E também faz parte dos planos de Deus, e com ele não se discute, se cumpre. Você sendo fiel SERÁ recompensado. Nunca custa lembrar que ao violar as regras divinas, o Inferno, local de eterno sofrimento, te aguarda... "
"E aquele pastor, bispo etc que vivem numa boa, e fiquei sabendo em estorquir os fiéis?"
"Ah, mas lembre-se que é temporário. Essa vida é apenas uma passagem. Eles se iludem em achar que vivem bem. No fundo sofrem por dentro, por irem contra Deus, nem se dando em falhar de seguir a Palavra. E pior, quando morrerem, vão direto ao Inferno para a etenidade sofrerem."
Lógico que há adendos. Como "aquele pastor rico cheio de vícios, veja o que ocorre em ir contra Deus" etc para manipular. O "além" com variantes de recompensas, como no Islã e o Paraíso de 72 virgens...
Quer poder maior que esse da "vida após a morte"? E a lógica de punição ou recompensa? Deus seria o grande controlador, mas o poder manipulativo mesmo é haver esse ideal INSANO da vida após a morte. Deus (ou deuses) e vida após a morte se completam.
Não entrando em outro tipo de "vida após a morte com reencarnação", de relação "causa - consequência" etc para outras formas de manipulação.
SERGIO VIULA disse…
Excelente artigo, Paulo. Parabéns!

Sergio Viula

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