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Missionário R.R. Soares é o campeão de aparições na TV

Quase 100 horas semanais na telinha
por Ricardo Valladares
para Veja

O campeão de aparições na televisão brasileira é o missionário evangélico Romildo Ribeiro Soares – ou R.R. Soares, como ele prefere que o chamem. Pregador de fala mansa, que não faz gestos bruscos nem se descabela, ele é o líder da Igreja Internacional da Graça de Deus, cuja sede fica no Rio de Janeiro. Comanda dois cultos televisivos e tem quase 100 horas semanais em emissoras de TV aberta. Um dos programas leva seu próprio nome e vai ao ar diariamente na Gazeta e CNT, entre 19h30 e 21h45. O outro traz a denominação de sua igreja e ocupa manhãs e madrugadas na Bandeirantes, na CNT, na Gazeta, na Rede TV! e em algumas afiliadas do SBT.

A compra de todo esse espaço no vídeo não fica por menos de 2,5 milhões de reais por mês. Mas o investimento dá frutos. Apenas no último ano, período em que apareceu no horário nobre da Gazeta, Soares aumentou o número de seus templos de 500 para 700. Estima-se que tenha hoje 500.000 seguidores ou "associados", como gosta de dizer, espalhados entre o Brasil, o Uruguai e Portugal. Muitos desses fiéis – e alguns pastores, como o famoso Ronaldo Didini, ex-apresentador do programa 25ª Hora – são oriundos de outras igrejas evangélicas. Dentre elas, a poderosa Universal, que Soares conhece de perto. Casado há 27 anos com Maria Magdalena Bezerra, irmã do bispo Edir Macedo, ele ajudou seu cunhado não apenas a fundar a Universal, mas também a criar um modelo de televangelismo adaptado ao Brasil.

Há quem desconfie de que Soares e Edir Macedo mantêm secretamente uma sociedade. O dono da Igreja da Graça, no entanto, é categórico ao afirmar que não tem nenhum relacionamento comercial com o cunhado. "Eu e Edir mantemos somente relações cordiais e nos vemos raramente", diz. 

A versão oficial é que ambos se desentenderam no começo dos anos 80. Soares não concordaria com o estilo agressivo e barulhento dos cultos da Universal. Ele é realmente bem mais discreto do que Macedo. Difícil imaginá-lo envolvido num escândalo como o do pastor que chutou uma imagem de santa. Mas, ao lado das diferenças, também há muitas semelhanças. Basta assistir aos programas da Igreja da Graça para comprovar. Eles começam com a pregação. 

Nesse ponto, Soares introduziu uma novidade de sucesso: a presença, no canto da tela, de uma intérprete da linguagem dos surdos-mudos. Ela se chama Lessandra de Souza Dias, tem 21 anos e já começa a ser reconhecida e a dar autógrafos nas ruas. Depois da mensagem do missionário, há testemunhos de pessoas que teriam recebido uma bênção. Como Edir Macedo, Soares tem uma veia acentuada de charlatanismo: faz supostos exorcismos e diz que é capaz de curar doenças, do lumbago até a Aids. Para finalizar vêm, é claro, os pedidos de dinheiro. Boletos bancários são distribuídos entre os fiéis. A contribuição sugerida é de 30 reais.

Soares afirma que quase todos os recursos obtidos dessa forma são reinvestidos nos programas de televisão. Recursos adicionais para impulsionar sua igreja viriam de outras fontes. Ele é dono de uma gráfica, de uma gravadora e de uma editora de livros, todas voltadas para o público evangélico. A editora tem cerca de 100 títulos em catálogo. Vinte foram escritos pelo próprio Soares, entre os quais Como Tomar Posse da Bênção, que já vendeu mais de 1 milhão de exemplares. 

Os produtos mais importantes, no entanto, são o Jornal do Associado, com tiragem de 1,5 milhão de exemplares, e a Revista da Graça. Neles, podem-se ler reportagens como "Cineastas americanos apelam para temas diabólicos" e matérias sobre pessoas que teriam sido salvas pela fé. Como não poderia deixar de ser, Soares sustenta idéias como a de que homossexuais são pessoas possuídas pelo demo. "Uns dizem que é safadeza, outros que é doença, eu digo que é um espírito maligno", prega ele. "Toda anormalidade é do diabo." Como ele "curaria" Aids e câncer? "Sou usado pelo Senhor e tenho fé na palavra de Deus", resume. Sorte de Soares não viver nos tempos da Inquisição.

Terceiro filho de um pedreiro e de uma dona-de-casa, o missionário capixaba de 52 anos reconhece que vive muito bem hoje em dia. Tão bem que começa a atrair a atenção da Receita Federal. Sua enorme casa em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, é conhecida como "O Clube do R.R.". Não é do tipo esbanjador e chega a citar um trecho da Bíblia sobre o tema: "Não gastai vosso dinheiro naquilo que não é pão". Quando viaja, Soares vai de classe econômica. "Sou pequeno, não me incomodo com o aperto", diz ele, que tem 1,66 de altura. 

Formado em direito, já tentou eleger-se deputado federal pelo Estado do Rio de Janeiro, mas fracassou. Ainda assim, afirma ter no currículo um feito político de primeira grandeza: a derrubada do comunismo. "Eu fiz uma oração em 1989 e pouco depois o Muro de Berlim veio abaixo", conta ele. Esse Soares está saindo melhor do que a encomenda... Apesar da fé inabalável na proteção divina, há uma coisa de que Soares tem medo: seqüestros e assaltos. Por causa disso, prefere manter segredo sobre quais os carros que ele, a mulher e os cinco filhos dirigem. "Sabe como é o Rio de Janeiro", lamenta.

Soares evita tocar no assunto, mas está mais do que evidente qual é o seu grande sonho: adquirir a concessão de um canal. "Ao contrário de outras igrejas, que têm investido muito em rádio para se expandir no interior do país, a Igreja da Graça mantém a aposta na televisão. É uma de suas marcas distintivas." Quem diz é o sociólogo Ricardo Mariano, da Universidade de São Paulo, autor de um estudo alentado sobre os novos cultos pentecostais no Brasil. Seis meses atrás, Soares tentou comprar sua primeira emissora, em Mato Grosso. O negócio não deu certo. A partir do próximo mês, no entanto, ele poderá ser visto durante mais tempo ainda nas cidades cobertas pelo sinal da rede CNT, de seu amigo José Carlos Martinez. Ele comprou outras sete horas diárias na emissora e ficará no ar do começo da madrugada até as 10 horas da manhã. O diabo que se cuide.

março de 2011

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