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Mostrando postagens com o rótulo Últimas Palavras

Trecho do livro 'Últimas Palavras', de Hitchens

"...minha voz de repente se transformou  num agudo guincho  infantil (ou talvez suíno)." Como tantas das experiências da vida, a novidade do diagnóstico de um câncer maligno tende a se dissipar. As coisas começam a ficar tediosas, até mesmo banais. É possível se acostumar ao espectro da morte como um velho entediado e letal, espreitando no corredor no final da noite, esperando uma oportunidade de me abordar. E não me oponho a ele segurar meu casaco daquele modo formal, como que me lembrando que é hora de seguir caminho. Não, é o risinho abafado que me deprime. Com demasiada regularidade, a doença me serve um atrativo especial do dia, ou um sabor do mês. Podem ser feridas e úlceras aleatórias, na língua ou na boca. Por que não um toque de neuropatia periférica envolvendo pés dormentes e frios? A existência diária se torna uma coisa de bebê, medida não nas colheres de café do Prufrock de T.S. Elliot, mas em pequenas doses de alimento, acompanhadas de barulhos encoraj

Única certeza moral de Hitchens é que foi o homem que criou Deus

Titulo original: 'Últimas Palavras' é diário sobre a evolução do câncer de Christopher Hitchens por Antonio Gonçalves Filho para Estadão Lançado no Brasil o livro que o notório ateu escreveu no hospital A proximidade da morte fez com que o polêmico escritor inglês Christopher Hitchens (1949-2011) reexaminasse um princípio que guiou boa parte de sua vida, baseado num dito atribuído ao filósofo alemão Friedrich Nietzsche (e por vezes a Goethe): Was mich nicht umbringt macht mich stärker (O que não me mata me fortalece). Como, então, poderia Hitchens ainda acreditar nisso após uma sessão de quimioterapia, ele que disse a seus leitores, ao descobrir um câncer no esôfago, em 2010, que desejaria ver a morte com uma lupa, consciente e desperto até o fim para estar frente a frente com a "indesejável das gentes"? Hitchens, obviamente, sucumbiu — como todos, aliás. Lembrou do poeta Kingsley Amis, pai de seu amigo Martin Amis, quando chegou sua hora e ele disse para P

Hitchens mostra em livro que enfrentou a morte com humor

O livro Christopher Hitchens, Mortality  mostra que esse intelectual polêmico manteve o seu humor irônico até fim. Aos 62 anos, o implacável crítico das religiões morreu no dia 15 de dezembro de 2011 em consequência das complicações de um câncer no esôfago. No Brasil, o livro foi lançado com o nome de "Última Palavras".