O livro "A Invenção do Monoteísmo — deuses feito de palavras", de Sacha Calmon, é leitura obrigatória para entender estas mutações: de deus menor cananeu, Javé passou a ser Deus exclusivo, depois tornado único, até tripartir-se na Trindade cristã, e dominar o Ocidente.
História não confirma proezas da Bíblia |
A Bíblia é um dos best-sellers mais extensos da literatura mundial. Mas a imensa maioria de seus crentes conhece — se tanto – 2% do que ela encerra.
Quanto à cronologia dos textos, os leitores não fazem a menor ideia, embora cada uma de suas partes refira-se a contextos históricos, econômicos e políticos distintos.
Para a maioria, a Bíblia seria a palavra de Deus, ditada de uma só vez a Moisés, quando na verdade ela foi escrita a centenas de mãos, em épocas diversas, em diferentes idiomas (hebraico, aramaico, grego e latim), e depois vertida para as línguas modernas.
A par disso, existem versões conflitantes: a Bíblia hebraica (Torá) distingue-se da Septuaginta (grega) e da Vulgata (latina), bem como das versões protestantes, católicas e ortodoxas.
Some-se a isso as glosas, supressões, acréscimos e modificações de toda sorte operadas pelos escribas ao longo dos séculos.
De fato, causa estranheza a ausência de registros extra bíblicos em outras línguas e em livros de História, embora sejam fartamente conhecidas as lutas e conquistas dos persas, caldeus, sumérios, assírios, babilônios, cartagineses, hititas, hindus, gregos, romanos, e das dinastias egípcias, desde 4.000 anos a.C.
Aliás, antes da destruição de Israel e de Judá (c . 700 e 550 a.C.) Javé era belicoso, prometedor, triunfante: anunciava maravilhas. Mas depois das derrotas ele se cala. Torna-se então um Deus ausente, esquivo e misterioso. E as venturas foram adiadas para uma outra vida...
Seriam os deuses feitos de palavras? Leiam o livro.
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