Título original: Sadômasô sustentável
por Luiz Felipe Pondé para Folha
O tédio é um dos maiores infernos humanos. Como diz a personagem mais legal do filme "Late Bloomers", com William Hurt e Isabella Rossellini, a bisavó pirada da família: "Se você é criança e não aprende a lidar com o tédio, quando cresce fica idiota".
Uma das piores formas de tédio é a estrutura sexual perversa. Ou, como alguns dizem por aí, "sadômasô" (o que antigamente era chamado de "sadomasoquista", no tempo em que era feio ser sadomasoquista). Não vou entrar em debates intermináveis sobre o que a "perversão" é, vou dizer claramente o que quero dizer com esta palavra e por que a perversão sempre me parece entediante.
Recentemente, na sua versão "sustentável", ela deixa ainda mais claro como é um cachorro desdentado. Você não sabe o que é um "sadômasô" sustentável?
Perversos, "descendentes" do chato Marquês de Sade, supervalorizado na filosofia, se acham o máximo porque pensam que realizam as fantasias que os neuróticos sonham e não têm coragem de realizar.
Enganam-se eles. A vida sexual do perverso é que é chata: queimar e ser queimado, bater e apanhar, ser amarrado e amarrar, máscaras de coro, caras que se vestem de colegiais e mulheres de bombeiro, gente que acha o pé da mulher seu melhor órgão sexual... "boring". Elas têm coisa muito melhor...
O Eros do sexo é o pecado, a vergonha, a culpa, a impossibilidade. A proibição, o medo. A vergonha é tão importante quanto imaginar a mulher por baixo da saia justa ao invés de vê-la de forma obviamente nua.
Quem não sabe disso não entende nada de orgasmo. Quem diz coisas como "É proibido proibir" é bobo e devia continuar fazendo suas festas em bufês infantis.
A palavra "sustentável" hoje em dia é como "ética", "Cabala", não quer dizer nada. É como escrever na porta de uma padaria "sob nova direção" só para atrair clientes. Propaganda provinciana.
No sentido que uso aqui, "sustentável" quer dizer "do bem", "inócuo", "corretinho". Por exemplo, temos até serial killer sustentável, o Dexter, da série homônima, serial "killer" que só mata serial killers. Limpinho como um "crente" da classe C.
Prefiro Jack, o estripador, que estripava prostitutas porque estas encarnam a mais antiga das vocações femininas e, por isso mesmo, uma das suas maiores delícias. Prostituta não é uma profissão, mas uma vocação, um arquétipo, como a "grande mãe".
O coitado do Sade ficaria horrorizado com o que fizeram de sua "Filosofia da Alcova", um livro para formar libertinos contra o sistema opressor no século 18. Você já reparou como todo mundo que quer nos libertar da opressão moral acaba ficando monótono e datado?
O que para Sade deveria ser uma transgressão terrível virou um jantar inteligente para gente que recicla lixo e, depois de tomar um "vinho em conta", goza chupando pés femininos. Em alguns anos, teremos pedófilos que também reciclam lixo e são budistas de butique.
Os "sadômasôs sustentáveis" dizem que você pode ser um deles e ser uma pessoa que não joga lixo na rua, que vota conscientemente, que é contra a indústria farmacêutica e ajuda velhinhas cegas a atravessar a rua.
De repente, até vão para encontros em salas escuras com sua "dominatrix" brincar de "escravos" depois da reunião de pais e mestres na escolinha do filho, que, é claro, não é um problemático como o filho do casal de neuróticos.
Logo serão capazes de dizer que gostar de ser espancado, queimado, mijado na boca e humilhado é harmônico com Jesus.
Os culpados por terem feito da filosofia do Sade um cachorro desdentado foram a moçadinha do "vamos desreprimir o sexo" ou do "gostar que mijem na sua cara também é cultura". Um modo "digno" de protestar.
Em matéria de protesto, ainda prefiro Lutero, Calvino e os pirados da Nova Inglaterra.
A personagem feminina do livro "A Letra Escarlate", de Nathaniel Hawthorne, autor americano do século 19 (o filme baseado no livro, com Demi Moore, é ruim porque faz dela uma feminista injustiçada, ainda mais "boring" do que Sade...), é um hino ao erotismo na mulher. Toda culpada, toda condenada, toda humilhada, toda possuída.
Pecado é no fundo uma paixão pela aniquilação de si mesmo.
julho de 2011
Artigos de Luiz Felipe Pondé.
por Luiz Felipe Pondé para Folha
O tédio é um dos maiores infernos humanos. Como diz a personagem mais legal do filme "Late Bloomers", com William Hurt e Isabella Rossellini, a bisavó pirada da família: "Se você é criança e não aprende a lidar com o tédio, quando cresce fica idiota".
Recentemente, na sua versão "sustentável", ela deixa ainda mais claro como é um cachorro desdentado. Você não sabe o que é um "sadômasô" sustentável?
Perversos, "descendentes" do chato Marquês de Sade, supervalorizado na filosofia, se acham o máximo porque pensam que realizam as fantasias que os neuróticos sonham e não têm coragem de realizar.
Enganam-se eles. A vida sexual do perverso é que é chata: queimar e ser queimado, bater e apanhar, ser amarrado e amarrar, máscaras de coro, caras que se vestem de colegiais e mulheres de bombeiro, gente que acha o pé da mulher seu melhor órgão sexual... "boring". Elas têm coisa muito melhor...
O Eros do sexo é o pecado, a vergonha, a culpa, a impossibilidade. A proibição, o medo. A vergonha é tão importante quanto imaginar a mulher por baixo da saia justa ao invés de vê-la de forma obviamente nua.
Quem não sabe disso não entende nada de orgasmo. Quem diz coisas como "É proibido proibir" é bobo e devia continuar fazendo suas festas em bufês infantis.
A palavra "sustentável" hoje em dia é como "ética", "Cabala", não quer dizer nada. É como escrever na porta de uma padaria "sob nova direção" só para atrair clientes. Propaganda provinciana.
No sentido que uso aqui, "sustentável" quer dizer "do bem", "inócuo", "corretinho". Por exemplo, temos até serial killer sustentável, o Dexter, da série homônima, serial "killer" que só mata serial killers. Limpinho como um "crente" da classe C.
Prefiro Jack, o estripador, que estripava prostitutas porque estas encarnam a mais antiga das vocações femininas e, por isso mesmo, uma das suas maiores delícias. Prostituta não é uma profissão, mas uma vocação, um arquétipo, como a "grande mãe".
O coitado do Sade ficaria horrorizado com o que fizeram de sua "Filosofia da Alcova", um livro para formar libertinos contra o sistema opressor no século 18. Você já reparou como todo mundo que quer nos libertar da opressão moral acaba ficando monótono e datado?
O que para Sade deveria ser uma transgressão terrível virou um jantar inteligente para gente que recicla lixo e, depois de tomar um "vinho em conta", goza chupando pés femininos. Em alguns anos, teremos pedófilos que também reciclam lixo e são budistas de butique.
Os "sadômasôs sustentáveis" dizem que você pode ser um deles e ser uma pessoa que não joga lixo na rua, que vota conscientemente, que é contra a indústria farmacêutica e ajuda velhinhas cegas a atravessar a rua.
De repente, até vão para encontros em salas escuras com sua "dominatrix" brincar de "escravos" depois da reunião de pais e mestres na escolinha do filho, que, é claro, não é um problemático como o filho do casal de neuróticos.
Logo serão capazes de dizer que gostar de ser espancado, queimado, mijado na boca e humilhado é harmônico com Jesus.
Os culpados por terem feito da filosofia do Sade um cachorro desdentado foram a moçadinha do "vamos desreprimir o sexo" ou do "gostar que mijem na sua cara também é cultura". Um modo "digno" de protestar.
Em matéria de protesto, ainda prefiro Lutero, Calvino e os pirados da Nova Inglaterra.
A personagem feminina do livro "A Letra Escarlate", de Nathaniel Hawthorne, autor americano do século 19 (o filme baseado no livro, com Demi Moore, é ruim porque faz dela uma feminista injustiçada, ainda mais "boring" do que Sade...), é um hino ao erotismo na mulher. Toda culpada, toda condenada, toda humilhada, toda possuída.
Pecado é no fundo uma paixão pela aniquilação de si mesmo.
julho de 2011
Artigos de Luiz Felipe Pondé.
Comentários
Pondé é um híbrido muito pouco convincente e nada agradável. Seu estilo literário está na contramão do seu programa ideológico. O estilo é chupado de Nietzsche; irônico, insolente e algo cínico. Só que Nietzsche era um iconoclasta que gostava de destruir ídolos. Já o pobre do Pondé é um conservador que almeja preservar ídolos, sobretudo os da religião.
Rodrigo
Ele é tão insosso...
Apelo a Pondé a Paulo Lopes,
Por favor leiam o que está acontecendo na USP. Sou aluna e a esquerda deu um golpe na USP. Há muito os verdadeiros alunos não aguentam mais esses malucos maconheiros da USP. Por enquanto na mídia eletrônica o única que mostra a cara é o jornalista Reinaldo Azevedo. Quero estudar com segurança, concluir meu curso e ganhar reconhecimento profissional.
Liberdade ainda que tardia.
Crianças, façam um texto que use as palavras sadomasoquismo, entediante, cachorro, desdentado, coro, igreja e máscara.
Um dos alunos criou "máscara de coro"
É sacal, infelizmente.
Ele quer ficar no "papai e mamãe" afinal?
Mas num eskenta naum sr. Pondê, vc vai continuar a publicar seus testo na foia e eu vou continuar a ser um zé mané.Eu sei que essa e sua grande vitoria, sr. Pondê. Um pernambucano fio d'ua égua que se deu bem em sum paulu!!! Asssim como nossso ilustríssmo expresidente!!!!
Ele de certa forma foi interessante de acompanhar por certo tempo,por não ser aquele intelectual clichê de esquerda,que parecem tão robóticos quanto os alvos de sua crítica.
Pondé embora seja bem inteligente e erudito,não tem a chama do gênio e nem a verdadeira angústia dos estudiosos da "alma", aos quais ele parece admirar.Portanto me enjooei.
Agora,é impressionante a quantidade de gente com dor de cotovelo.Não tem currículo lattes?Presta vestibular,faça bacharelado, mestrado e doutorado e talvez vc tenha um espaço tão grande quanto Pondé para escrever a suas besteiras.O caminho está aí,não precisa ficar com chororô.
Que o Sr Ponté não conhece NADA sobre o que ele chama de "sadomasô" isto ficou claro, mas ele perdeu a grande chance de mostrar ao menos um pouco mais de cultura antes de escrever coisas desconexas como o fez.
O Sadomasoquismo no Brasil é extremamente bem organizado, segue estruturas como a TRIADE sã, segura e consensual, suas cenas que vão do light ao hard são encerradas caso o botton (parte dominada) mencione uma palavra de segurança e objetiva o PRAZER, já que é um sadismo erótico. Muito longe da dor, a essência sadomasoquista visa a entrega momentânea ou constante de Poder. É portanto o "jogo" sadomasoquista não é para qualquer um. Necessita-se que antes de mais nada os envolvidos tenham esta opção sexual e em seguida estude MUITO já que a responsabilidade de ter a vida de outra pessoa nas mãos é enorme.
Eu me perguntei o dia todo porque alguém escreveria tantas coisas fúteis de algo tão profundo como o BDSM e cheguei a conclusão que este senhor acordou de mau humor, brigou com o mundo e não apanhou de ninguém rs
De qualquer forma, fica aqui o meu alerta.
O sadomasoquismo do Brasil é um dos melhores do Mundo e somos reconhecidos como tal internacionalmente.
Não há tempo para tédio.
Se o digníssimo Marques de Sade vivesse nos dias de hoje iria reconhecer que a razão sadomasoquista é a consensualidade. A entrega do poder por opção de sua vitima é muto mais saborosa que tomá-la a força, pois a força qualquer um pode..Mas a competência de receber uma vida nas mãos é sublime.
Uma das fontes deste conhecimento encontra-se no site do Clube Dominna. Ponté poderia ter nos procurado..Pois onde nós somos pós-doutorados ele não passaria de um estagiário.
O número de sadomasoquistas é tão grande que de repente ele pode se surpreender.. E estamos em todas as camadas sociais, inclusive nos meios de comunicação.
Por sua vez, a podolatria é o fetiche mais recorrente do mundo. Isto não seria possível não fossem as mulheres absolutamente apaixonadas por esta prática.. Pelos pés passam todas as terminações nervosas do corpo e é possível se chegar ao orgasmo apenas manipulando os pés de uma mulher.
Depreciar o que quer que seja, sem o devido conhecimento,por uma pessoa que sabe onde encontrar suas fontes de pesquisa é no mínimo alguém que deseja um holofote.. E conseguiu. Ao menos os sadomasoquistas, os fetichistas e os polólatras sabem quem é ele e de sua profunda ignorância sobre este assunto tão delicioso.
Só para fazer uma analogia bem tosca: eu não preciso ser um engenheiro projetista de automóveis para dizer se um carro me agrada ou não.
Nenhum dos lados foi bem defendido ou acusado com clareza.
Texto de quem se perdeu numa idéia que teve durante um sonho.
Nota 5,5.
Ponde julgou negativamente algo que ele pessoalmente nao gosta, como se o gosto dele fosse o certo ou o correto e o dos outros (sadomasos) errado e condenavel...
foi muito infeliz,Ponde, dessa vez...autoritario e arbitrario (como nao costuma ser, ate onde eu entendo, embora muitos achem que sempre e)
Mas não podemos deixar de considerar que quem sente desejo de praticar bdsm são pessoas normais, com vidas normais, submetidas a regras da sociedade.
Pelo que entendi, o autor não aprecia o fato de que o bdsm não exclui a vida baunilha da pessoa. E não exclui porque simplesmente é uma das manifestações de sexualidade possíveis.
Nem todo mundo pratica ou se interessa por bdsm por uma questão de subversão. Existem pessoas que sentem prazer transando desse jeito, mas também querem ter filhos e dar a eles educação, lazer, alimentação, saúde e etc como todos os outros.
Ser sadomasoquista não é como ser serial killer. Certamente existem análises psicanalíticas que podem ser feitas em ambos os casos, mas a forma como vivemos nossa sexualidade, desde que não agrida ninguém, não é crime.
analisessintaticasdarealidade.blogspot.com
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