Título original: A Democracia da Caveira
por Luiz Felipe Pondé para a Folha
Eu também sou contra a pena de morte. Também acho que grande parte da violência urbana é fruto de miséria, fome, educação ruim e saúde pública ruim.
Também concordo que a elite brasileira tem um histórico de maus antecedentes em sua responsabilidade pela sociedade que lidera (aliás, nenhuma sociedade presta sem o "cuidado" de sua elite).
Também acho que não adianta (somente) a polícia ou as forças armadas invadirem o morro para matar e prender bandido e que o Estado devia estar lá para cumprir sua função civilizadora. Também acho que é mais fácil prender e matar bandido pobre do que rico.
E, sim, o oficialato do Estado muitas vezes é tão bandido quanto os traficantes. Acho que qualquer pessoa em sã consciência não pode negar tudo isso.
Mas a história não para aí. Numa cena do maravilhoso "Tropa de Elite 2", o herói coronel Nascimento (corajoso, reto e solitário) entra num restaurante para encontrar alguns dos responsáveis pela (in)segurança pública do Estado do Rio.
Acuado, temendo um quase linchamento público, nosso herói se assusta quando, ao entrar no restaurante, é ovacionado. Sua voz em "off" diz algo como "... mas o povo gosta é de bandido morto".
Sim, considero o Capitão Nascimento -promovido a coronel no segundo filme- o primeiro herói produzido pelo cinema brasileiro, para além das tentativas infantis e entediantes de nos fazerem engolir, goela abaixo, bandidos, guerrilheiros de esquerda, drogados, prostitutas e cangaceiros como heróis.
Vale lembrar que o intelectual dos direitos humanos no filme (o Fraga) revela-se um "Capitão Nascimento" em sua função de crítico da sociedade, o que é raro.
Normalmente, os intelectuais das universidades ficam entre si, destruindo carreiras dos colegas, fazendo política institucional comezinha, buscando cargos burocráticos na nomenclatura da universidade ou em partidos políticos afins, dizendo mentiras deslavadas a serviço da ideologia do partido (intelectuais orgânicos) ou de seu corporativismo. Não nos enganemos: Fraga é um Capitão Nascimento, por isso os dois "se encontram" no final. Quem leu o filme como "o Capitão Nascimento pede pra sair" o fez por ignorância ou simples má-fé.
Sim, acho que grande parte de nossa "inteligência profissional" tende a desmerecer este grande detalhe: o "povo", categoria social tão amada por quem quer fazer dela uma "santidade política", gosta de ver bandidos presos e mortos.
Neste momento, a "inteligência profissional" abandona o "povo" em seu "gosto alienado".
Aqui erra a "inteligência profissional", porque querer bandido preso é democracia pura: os pobres são os que mais sofrem com esses bandidos, a invasão do morro é um ato de democracia, o Bope representa, aqui, os direitos humanos da gente comum. Só intelectual gosta de bandido. Pouco importa se a "motivação" da invasão do morro não tenha sido tão "pura" (só contra o crime), nada no mundo é puro. Você é?
Lembre que no primeiro parágrafo digo tudo que "gente bacana" diz (e concordando de fato com a "gente bacana" nesse assunto, coisa rara na minha vida).
Mas quem vive seu dia a dia trabalhando, pagando impostos (sempre avassaladores e abusivos), levando filhos à escola, indo ao cinema, viajando de fim de semana, fazendo compra em shoppings, indo a feiras e supermercados, enfim, vivendo sua vida normal, tem o direito de querer que bandidos sejam presos e, se resistirem, sejam mortos.
Ver-se representado no Capitão Nascimento e no Bope não é pecado de gente reacionária. É condição de quem é vitima, seja de um Estado irresponsável, seja de bandidos e assassinos.
O esperado de uma sociedade decente não é apenas fazer o discurso dos direitos humanos dos bandidos, mas também realizar os direitos humanos de quem vive nos limites da lei.
Passou o trauma da ditadura. A história "andou". A população quer ver sua honestidade banal e cotidiana contemplada no direito de andar de ônibus e de carro. Basta de papo furado, devemos ter escola, saúde, justiça e faca na caveira. Nada disso é belo, mas um mundo "belo" é para gente infantil.
> O pior canalha pode dizer o jargão 'por uma sociedade mais justa'
agosto de 2010
> Artigos de Luiz Felipe Pondé.
por Luiz Felipe Pondé para a Folha
Eu também sou contra a pena de morte. Também acho que grande parte da violência urbana é fruto de miséria, fome, educação ruim e saúde pública ruim.
Também concordo que a elite brasileira tem um histórico de maus antecedentes em sua responsabilidade pela sociedade que lidera (aliás, nenhuma sociedade presta sem o "cuidado" de sua elite).
Também acho que não adianta (somente) a polícia ou as forças armadas invadirem o morro para matar e prender bandido e que o Estado devia estar lá para cumprir sua função civilizadora. Também acho que é mais fácil prender e matar bandido pobre do que rico.
E, sim, o oficialato do Estado muitas vezes é tão bandido quanto os traficantes. Acho que qualquer pessoa em sã consciência não pode negar tudo isso.
Mas a história não para aí. Numa cena do maravilhoso "Tropa de Elite 2", o herói coronel Nascimento (corajoso, reto e solitário) entra num restaurante para encontrar alguns dos responsáveis pela (in)segurança pública do Estado do Rio.
Acuado, temendo um quase linchamento público, nosso herói se assusta quando, ao entrar no restaurante, é ovacionado. Sua voz em "off" diz algo como "... mas o povo gosta é de bandido morto".
Sim, considero o Capitão Nascimento -promovido a coronel no segundo filme- o primeiro herói produzido pelo cinema brasileiro, para além das tentativas infantis e entediantes de nos fazerem engolir, goela abaixo, bandidos, guerrilheiros de esquerda, drogados, prostitutas e cangaceiros como heróis.
Vale lembrar que o intelectual dos direitos humanos no filme (o Fraga) revela-se um "Capitão Nascimento" em sua função de crítico da sociedade, o que é raro.
Normalmente, os intelectuais das universidades ficam entre si, destruindo carreiras dos colegas, fazendo política institucional comezinha, buscando cargos burocráticos na nomenclatura da universidade ou em partidos políticos afins, dizendo mentiras deslavadas a serviço da ideologia do partido (intelectuais orgânicos) ou de seu corporativismo. Não nos enganemos: Fraga é um Capitão Nascimento, por isso os dois "se encontram" no final. Quem leu o filme como "o Capitão Nascimento pede pra sair" o fez por ignorância ou simples má-fé.
Sim, acho que grande parte de nossa "inteligência profissional" tende a desmerecer este grande detalhe: o "povo", categoria social tão amada por quem quer fazer dela uma "santidade política", gosta de ver bandidos presos e mortos.
Neste momento, a "inteligência profissional" abandona o "povo" em seu "gosto alienado".
Aqui erra a "inteligência profissional", porque querer bandido preso é democracia pura: os pobres são os que mais sofrem com esses bandidos, a invasão do morro é um ato de democracia, o Bope representa, aqui, os direitos humanos da gente comum. Só intelectual gosta de bandido. Pouco importa se a "motivação" da invasão do morro não tenha sido tão "pura" (só contra o crime), nada no mundo é puro. Você é?
Lembre que no primeiro parágrafo digo tudo que "gente bacana" diz (e concordando de fato com a "gente bacana" nesse assunto, coisa rara na minha vida).
Mas quem vive seu dia a dia trabalhando, pagando impostos (sempre avassaladores e abusivos), levando filhos à escola, indo ao cinema, viajando de fim de semana, fazendo compra em shoppings, indo a feiras e supermercados, enfim, vivendo sua vida normal, tem o direito de querer que bandidos sejam presos e, se resistirem, sejam mortos.
Ver-se representado no Capitão Nascimento e no Bope não é pecado de gente reacionária. É condição de quem é vitima, seja de um Estado irresponsável, seja de bandidos e assassinos.
O esperado de uma sociedade decente não é apenas fazer o discurso dos direitos humanos dos bandidos, mas também realizar os direitos humanos de quem vive nos limites da lei.
Passou o trauma da ditadura. A história "andou". A população quer ver sua honestidade banal e cotidiana contemplada no direito de andar de ônibus e de carro. Basta de papo furado, devemos ter escola, saúde, justiça e faca na caveira. Nada disso é belo, mas um mundo "belo" é para gente infantil.
> O pior canalha pode dizer o jargão 'por uma sociedade mais justa'
agosto de 2010
> Artigos de Luiz Felipe Pondé.
Comentários
Wander
E se os policiais tivessem começado a limpar a cidade mais cedo, não haveria tantos bandidos. Eu sou a favor de dar carta branca para os policiais matarem, em qualquer cidade.
Prefiro ser representado pela truculência de um Cel Nascimento do que pela preguiça "politicamente correta" de um desgraçado como Macunaíma.
Vade retro!
O que mais se vê na Academia é puxa saco, que comumente culpa os outros pela sua desgraça.
Está certo que a Educação brasileira é um completo lixo, mas quem senta a bunda na cadeira e estuda é a pessoa, não é o professor que está lá para fazer isso para ele. Depende da vontade da pessoa também.
Essa 'esquerda' nunca vai acordar. E é por causa de pessoas assim, demagogas, que a Academia, hoje, é um lugar avesso ao pensamento.
"BANDIDO BOM É BADIDO MORTO"
de preferência todo o típo.
Se eu preciso de grades em janelas, muros altos, horario seguro para sair de casa, então o prisioneiro sou eu!
Bandido bom é na cadeia, de preferencia trabalhando pra não gastar dinheiro publico! Se não der pra prender, matar também não é um mau caminho.
Fiz dois textossobre isso no meu blog:
http://atradeiras.blogspot.com/2010/09/o-triunfo-da-injustica.html
E
http://atradeiras.blogspot.com/2011/01/as-vantagens-do-submundo.html
Mas,como odeio ainda mais Macunaíma e bandidos (de todas as cores, gêneros e classes)
sou obrigada a torcer por essa criatura truculenta e sádica, que quer redimir o Brasil usando um cabo de vassoura. Ok , é um contraponto às sandices de esquerda, mas eu realmente não consigo achá-lo o máximo!
Ele dá o braço a torcer no início, sobre a forma como a sociedade trata as pessoas, comportamento da elite, etc. Muita gente tem imensa dificuldade em vincular projetos sociais, oportunidade, educação com formaçãoo de bandidos.
O Fraga é baseado no Freixo (tão ou mais brilhante que o personagem). O Freixo tem um discurso inteligente e mais completo que o do Pondé.
A coisa mais curiosa da cena em que Nascimento (ele tem uma conduta violenta acima do normal, mas é honesto), fica clara uma coisa para o povo pensar: sem ver como tudo ocorreu, o policial que mata o bandido, pondo a vida do fraga em perigo, parece um herói, mas na real ele quase matou um inocente por puro "sangue no zóio; uma ação policial bem feita teria tido zero mortes, e o Fraga não teria corrido riscos de morte. Enfim, na real o "intelectual de esquerda" tão bem visto pela população, especialmente a classe média, era o verdadeiro herói, ele libertou os refens sem matar ningiem, o Matias não matou um inocente, matou um homem que fazia um refen, mas se o Matias não tivesse entrado na cela, ninguem teria sido feito de refem. Ou seja, cuidado ao aplaudir um policial matador (Telhada / Conte Lopes), pois atirar em sequestrador com refens, ou em quem resiste a prisão, td bem né, faz parte do ofício, no entanto, execução e ações truculentas que provoquem a necessidade de atirar no bandido não devem ser aplaudidas por gente de bem.
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