E a dengue continua a matar – principalmente crianças – no Rio. A situação oferece uma síntese da incompetência do governo, de todas as esferas, da municipal, estadual e federal, e não só quanto ao combate à doença. Incompetência que perpassa quase todos os setores públicos e que, nesse caso do Rio, ficou mais visível.
Os telejornais mostram todo dia o desespero das pessoas pobres que não conseguem atendimento adequado nos hospitais. Há insuficiência de médicos (pra que o Brasil tem tantas faculdades de medicina?), os hospitais são insuficientes, filas quilométricas.
Mas nada disso é novo: a precariedade do sistema público de saúde (e até do particular, em muitos casos) vem de longe, atravessa governos. Com a dengue, ela se agravou no Rio.
No Estado do Rio, já foram notificados mais de 75 mil casos da doença. Desse total, 1.103 correspondem somente a este mês, até o dia 9.
Peraí, gente, estamos em meados de abril, e a contaminação da doença começou a se agravar ao final do ano passado. A epidemia já deveria estar sob controle.
De janeiro até ontem (12), já morreram na cidade do Rio 50 pessoas. Em todo o Estado do Rio, as mortes já são 82. Quando isso vai parar?
O prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), teve o desplante de dizer que estava rezando para a epidemia acabar, para que os mosquitos da doença tomem o rumo do mar.
Ora, o sr. Maia devia ter um mínimo de vergonha na cara, de modo a não aproveitar o momento para fazer demagogia. Por que os mosquitos se suicidariam em alto mar para atender as orações do prefeito?
Brincadeira tem hora e a hora não é esta.
Maia, aliás, resistiu em admitir que houvesse uma epidemia – apegou a uma referência estatística.
Que a estatística vá à merda! As pessoas estão morrendo, e falar em estatística para tentar demonstrar que a situação não é tão grave é de uma esperteza burra e cruel, porque os fatos falam por si.
Maia deveria ter a coragem de dizer que não há epidemia a um pai enfurecido por ter perdido um filho por causa da doença. Se o prefeito levasse uns petelecos, seria bem merecido.
As informações são alarmantes: a doença está se alastrando por outras regiões do país. Em Sergipe, a epidemia já atinge 16 municípios e ameaça outros 17, incluindo a capital, Aracaju. Vinte pessoas foram diagnosticadas com dengue hemorrágica, o tipo mais grave, e já houve sete mortes. Há casos o Espírito Santo e em outros estados.
No mapa extra-oficial do Ministério da Saúde, as regiões de alto risco de infecção dos vírus da dengue são o Distrito Federal e os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão, Pará, Amapá, Amazonas e Roraima.
O mapa é extra-oficial porque, por conter dados tão avassaladores, o governo federal vergonhosamente está demorando em assumi-lo, para divulgá-lo oficialmente. Mas ao menos já alertou os governantes dessas regiões e o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, acabou por admitir que as notificações da doença vão se estender pelos próximos meses, até o final do ano.
Ou seja, em palavras não dita pelo ministro, mas subentendidas, mais pessoas vão morrer (quantas?, centenas, com certeza), apesar das providências tomadas às pressas, como a montagem no Rio dos hospitais de lona.
O ministro só não explicou até agora por que, em 2007, a sua pasta aplicou apenas 55% do total dos R$ 68,1 milhões do Programa de Vigilância, Prevenção e Controle da Malária e da Dengue. E Temporão, veja só, é tido com um ministro técnico, alguém certo no lugar certo. Imagine se não fosse.
É preciso dar um basta à incompetência assassina dos governos.
O suplício dos pobres
> Governo federal aplicou apenas 55% do programa de prevenção da dengue.
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